Viagem: Tecelãs de Chinchero (Peru)
Um dos lugares que eu sempre quis conhecer era o Peru. No momento de traçar o roteiro, tomei o cuidado de incluir visitas a regiões têxteis, claro! O principal deles era Chinchero, um povoado em Cusco, famoso pelo artesanato têxtil e onde as mulheres tratam a lã e tecem em teares amarrados à cintura.
O Peru é lindo, o povo é hospitaleiro, confesso que de todos os lugares que visitei Chinchero não deixa nada a desejar, afinal, eu estava no paraíso das tecelãs. Um passeio imperdível para quem curte artesanato, história e cultura.
E por pouco quase perdi esse passeio, porque passei muito mal na viagem, mas consegui transferir para o último dia, antes de ir para o aeroporto e retornar ao Brasil. Lá, fomos a um local onde as mulheres explicam todo processo têxtil da região, desde a lavagem da lã até a feitura das peças.
Gravei vídeo e coloquei no meu canal do IGTV em duas partes. Eles estão em espanhol, claro, mas você poderá ver um pouco do que vou descrever abaixo e tenho certeza de que se encantará, mesmo que não entenda o idioma.
Nos vídeos, as mulheres do povoado de Chinchero explicam que a limpeza da lã é feita em água com um sabão ecológico: uma batata ralada, gente!!!! Depois da lavagem, a água vai para as terra, para regar as plantas e não contamina absolutamente nada. Vocês vão observar como a água fica cheia de espuma. É só batata e água!
A saber: no Peru tem mais de 3 mil tipos de batatas e nem todas são comestíveis. Algumas são utilizadas em outras coisas, como essa que vira sabão.
Depois da lavagem, elas deixam a lã secar e, após, fazem a fiação – transformam os tufos em fio – e essa é uma atividade que elas fazem caminhando, dançando, com uma destreza incrível.
O tingimento é feito com raízes, folhas, flores, sementes, musgos, cascas de árvores e de alimentos, até onde vi. Os mais curiosos são o tingimento com a cochonilha e com o maíz morado.
*** Aviso aos veganos – narrativas fortes a seguir.***
A cochonilha é um inseto parasita que dá em plantas e lá no Peru eles retiram dos cactos. Ela é branca, mas quando esmagada solta uma coloração vermelha que gera mais de 20 tons dessa cor. Curiosidade: o danoninho também usa cochonila como corante, aliás, quase tudo que é vermelho/rosa na indústria alimentícia usa.
O maíz morado é um milho roxo, quase preto, que usam bastante para fazer um refresco delicioso (chicha morada, que eu tomei de monte lá!) e também serve para dar a tonalidade roxa. Curiosidade: é preciso utilizar um elemento para colorir e outro para fixar e impedir que a cor desbote. No caso da chicha morada, elas explicam que é utilizada a urina de crianças do povoado como fixador da cor, nunca de adultos, pois já é contaminada com coisas como o álcool.
Mais curiosidade: no Peru tem mais de 70 tipos de milho! Comi vários deles!!! Muitos são fritos e comemos como pipoca, porém eles não estouram como a nossa pipoca, continuam com a mesma forma. Parece que você vai quebrar o dente ao morder, mas lá tem dentro é a pipoca. E cada um tem um sabor diferente.
Um detalhe interessante, quando perguntadas sobre o tempo que ficam tecendo, as mulheres responderam que não tecem mais do que 3 a 4 horas diárias, pois a tarefa exige muito da vista e cansa a cintura. Isso porque elas amarram o tear na cintura para tecer. No restante do dia elas lidam com o tratamento da lã, venda dos produtos, entre outros afazeres, como qualquer microempreendedor.
A lã utilizada é de carneiro e de alpaca e diversos tipos de peças são produzidas, como bolsas, caminhos de mesa, tapetes, ponchos… As estampas de padrões tecidos nas peças são símbolos do povo em quéchua, idioma local, ou em desenhos de animais e elementos naturais como estrelas, água, entre outros. Basicamente, a tapeçaria conta a história do povoado. E, dentre as ferramentas utilizadas para tecer estão galhos e ossos de animais. Nada se perde por lá, tudo ganha vida.
Aqui deixo o link para a primeira parte do vídeo: https://www.instagram.com/tv/BksD1r9BDOM/
E a segunda parte do vídeo: https://www.instagram.com/tv/Bksl0AJBnBA/
Amo o Peru não conheço esse povoado espero poder ir lá no próximo ano e quero conhecer, linda sua história.
É realmente muito linda a cultura de lá! Muito obrigada!