Sobre nós
Fio é vida. Nó é o desafio da vida. Nossa confusão. Com fusão.
Qual a sensação, quando você está tecendo e encontra um nó no meio do caminho?
Para algumas pessoas é irritante, já me disseram que dá vontade de sair puxando pra ver se solta. Mas aperta mais, em geral. A gente pragueja, reclama, fica inconformado com aquele nó: se é no início do trabalho, porque acabamos de começar; se é no fim, mas só porque eu estava acabando…
O nó nunca é bem-vindo. Assim como os desafios da vida, na maioria das vezes. É comum olhamos pra eles e sentir vontade de chorar, não saber por onde começar a soltar. É preciso paciência, disposição para olhar com calma, buscar a ponta e ver pela trama bagunçada por onde podemos começar a soltura. Com muita delicadeza, ir observando e atuando na liberação do fio, respeitando-o, sem puxar, sem arrebentar tudo, nem esgarçar, com amorosidade.
Se tenta resolver de qualquer jeito, com raiva e violência, não funciona. Por vezes, o nó piora, aperta mais. É mais sofrido. É fato que deverá ser desatado, em algum momento, para que a vida possa prosseguir. Para que a trama possa se construir. E é possível mesmo que um nó seja uma bênção que nos faz olhar para as coisas de outra maneira…
Quem nunca desatou um nó? Tenho pra mim que aqueles que tecem tendo desatado nós tecem melhor. Pois fizeram o caminho nas duas direções, a fluida e a complexa, possibilitando compreender o caminho do fio na anatomia da trama reversa. E as chances de sermos bons tecelãos é muito grande, que bom! Pois na vida o que não falta é nó.
E, sim, às vezes é preciso cortar o fio. Em algumas situações, o ropimento é inevitável. Contudo, ao findar um ciclo, sempre outro pode ser iniciado. Adicione o frecor da novidade, a possibilidade de, inclusive, fazer diferente. Estar simplesmente aberto às oportunidades ofertadas pela vida é uma forma de abrir espaço para novos horizontes.
Eu diria que a vida é mais feita de nós, no geral, e passamos mais tempo desatando-os do que tecendo de fato. Mas alguns nós podem ser evitados também. E, se acontecerem, como tudo na vida, é preciso alimentar o que há de melhor em si para desatar e seguir. Aquilo que alimentamos é o que formará a trama.