Quem faz
Cristine Bartchewsky Lobato
É clichê, mas sou uma metamorfose ambulante. Sou poetisa, formada em comunicação social com habilitação em jornalismo, fiz cursos voltados para moda, como modelagem plana, auxiliar de corte e costura, assistente de design têxtil, upcycling e diversos cursos livres como artesã têxtil, voltados à escrita e ao autoconhecimento.
Como curiosa nata, não sou especialista em nada além de experimentar de tudo um pouco e remixar criações. Apaixonada por fios e suas possibilidades, adoro conhecer novas técnicas, aprimorar as que pratico, desatar nós e criar laços – sejam eles têxteis ou humanos.
Venho de uma família de artífices, de pessoas ligadas à natureza, cultura e arte que exerceram grande influência sobre minha educação. Minhas principais inspirações começam lá atrás: com meu bisavô russo Pedro, que ajudou a me criar até os 10 anos. Ele construía móveis e fazia os brinquedos dos filhos.
Com minhas avós Julinha, tricoteira e Iracema, costureira profissional e crocheteira, que pacientemente me entretinham com agulhas, fios, retalhos e me vestiam com suas criações.
Com meu avô materno João (Janjão), que era pescador, músico, difusor do folclore brasileiro. Foi um dos maiores expoentes da cultura caiçara/cabocla de Cananéia e região do Vale do Ribeira, tendo organizado muitos fandangos, romarias e reisadas e sendo reconhecido pela Secretaria de Estado da Cultura (São Paulo) como guardião dos rituais da folia de reis.
Com minha mãe, meu pai, tias e tios, que sempre me estimulam a aprender e, com um espírito hippie, me ensinaram muito sobre o que hoje chamamos de sustentabilidade.
Por isso, o fazer manual sempre esteve presente em minha vida, mas foi em 2000, aos 17 anos, que adquiri um pequeno tear de pregos para me auxiliar em meio a uma depressão e, desde então, tenho utilizado o fio de forma terapêutica e política em meu dia a dia.
Atualmente, facilito oficinas e ministro cursos pela ComFio e pelo coletivo Upcycling É Resistência por meio da educação socioambiental, prática do upcycling e da autogestão, aliando meus estudos em comunicação, têxtil e moda. Sou repórter freelancer e represento o Fashion Revolution Brasil em São Roque/SP.
A Com Fio
A Com Fio surgiu da vontade de construir, dar forma a coisas que eu não conseguia nomear. Entre 2000 e 2013, foi uma marca de peças de moda. A partir de 2014, senti necessidade de me conectar a outras pessoas por meio do fio e compartilhar o que vinha descobrindo com o exercício das artes manuais, benefícios e insights que faziam meus dias mais significativos.
A primeira oficina já nasceu com a proposta de aliar trabalho manual e autoconhecimento e, então, passei a trazer técnicas e temas diversos, baseados em estudos pessoais voltados para o sistema yoga, com recorte especial para a escrita, comunicação não-violenta, além do mindfulness e slow living. Em 2018, aliei arteterapia com o projeto Bem-Me-Quer, cocriado junto à psicóloga Mayra Aiello.
Atuando como craft storyteller (termo cunhado pela minha amiga Karina Mie), construo narrativas têxteis e proponho às pessoas abrir espaços no cotidiano para a reflexão e o diálogo, a edição de narrativas e expressão pessoal a partir do upcycling, da escrita e do fazer manual, compreendendo-o como ferramenta terapêutica, de emancipação e resistência.
As aulas são voltadas para o desenvolvimento de peças, customização e expressão do aluno por meio de técnicas, como crochê, tricô, tecelagem, macramê, bordado e costura.
Para simbolizar tudo isso, o logotipo da Com Fio traz um unalome, símbolo utilizado por budistas para ilustrar a transcendência do ser, que, de forma resumida, começa pelo caos, se desenrola em espirais e linhas tortuosas (nossos acertos e erros na vida) até atingir a harmonia, a iluminação, a unidade.
Ele retrata o caminho que venho percorrendo, bem como o de todos os que chegam a mim para aprender com o mestre – o fio.
Valores pautados pela Carta da Terra.
Earth Charter Graphic – Fonte: Studio Carreras